Filhos: Se não tê-los, como sabê-los?

Em função da série na Netflix, de um sucesso que está comovendo espectadores, a famosa "ADOLESCÊNCIA", não quero falar sobre a qualidade e muito menos do roteiro brilhante. E tão pouco de uma cinematografia surpreendente e de atores que dispensam comentários, mas sobre o assunto que a compõe, sem nada que possa ser um spoiler. Sou mãe, atualmente de adultos bem realizados e situados. Não enfrentei redes sociais para criá-los, por isso mesmo me acho de certo modo privilegiada, apesar dos anos 80 / 90, terem sido de descobertas bem difíceis para quem lida com adolescentes, com novas drogas, o advento dos sintéticos. A banalização da maconha e da nicotina, com certeza acredito que são melhores que os atuais problemas de adicção. O Instagram e o Facebook deles era o Orkut, quase somente do mundo dos adultos. O telefone celular era privilégio dos muito ricos, pois se pagava quando ligava e quando recebia a ligação, e havia festas, resenhas, encontros na praia, na esquina, pois havia esquinas, no surf, no Clube do Flamengo, na casa de Petrópolis, enfim, algo mais interessante que a internet. O Tik Tok eram os clubes, se dançava em dupla, mas não uma cópia e sim seu estilo, com o intuito de diversão e não de exposição. Jogos online? Estes já existiam, mas o Mario Bros não era mais interessante que um beijo na boca.

Criei meus filhos com a verdade! Podia-se falar sobre tudo, pois não era uma vida assustadora como a de agora. Riscos temos e tivemos o tempo todo, mas agora mais do que nunca, os telejornais espirram sangue, injustiças e notícias para nos deixar, nós adultos, atônitos, quiçá tudo isso em uma mente em formação. O bullying sempre existiu, o julgamento do outro adolescente sempre existiu, mas não de uma população mundial estranha atrás de uma tela. Por isso a eterna pergunta: Filhos, por que não tê-los? Mas se não tê-los, como sabê-los? Te deixo aí para pensar…

Foto: Enrico Guarischi, Cininha de Paula e Maria Maya. (Arquivo Pessoal)